segunda-feira, 16 de abril de 2012

O “ESPASMO MENTAL” – DESAPRENDENDO A PENSAR PARA FALAR


Espero que esteja tudo bem contigo!

Hoje compartilho uma característica crescente em nossa sociedade, a “arte” de falar sem pensar. Quem já não agiu por impulso e falou algo que não deveria? Ou já foi “honrado” com tal argumentação inesperada de alguém?

Gostaria de trocar algumas abordagens conceituais e experiências com você, vamos lá?

Contextualizando o espasmo...

Um espasmo é tipicamente acompanhado de uma dor localizada.

O espasmo é causado por mau funcionamento dos nervos, pode se tornar muito mais grave, e permanente, se não for tratado.

Por extensão, um espasmo temporário é uma explosão de energia, atividade, emoção, estresse ou ansiedade.

Em casos muito graves, o espasmo pode induzir as contrações musculares que são mais fortes do que a doente poderia gerar, em circunstâncias normais. Isso pode causar tendões e ligamentos rompidos.

Os espasmos podem ser causados por hidratação insuficiente, sobrecarga muscular ou ausência de alguns minerais (como magnésio).
Fonte: Wikipédia

Correlaciono esta contração muscular e atribuo o conceito “Espasmo Mental”, a seguir demonstro estes “sintomas” comparados para melhor identificação. 
 
 
Defino o Espasmo Mental como toda ideia concebida e não processada corretamente, que acaba expressando um impulso através da fala e este tende a gerar erros no processo de comunicação, ocasionando momentos inoportunos.

Vygotsky, um gênio da Psicologia (em seu livro – Pensamento e Linguagem) comenta que a relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa, mas um processo, um movimento contínuo de vaivém entre a palavra e o pensamento; nesse processo a relação entre o pensamento e a palavra sofre alterações que, também elas, podem ser consideradas como um desenvolvimento no sentido funcional. As palavras não se limitam a exprimir o pensamento: é por elas que este acede à existência. Todos os pensamentos tendem a relacionar determinada coisa com outra, todos os pensamentos tendem a estabelecer uma relação entre coisas, todos os pensamentos se movem, amadurecem, se desenvolvem, preenchem uma função, resolvem um problema. Esta corrente do pensamento flui como um movimento interno através de uma série de planos. Qualquer análise da interação entre o pensamento e a palavra terá de principiar por investigar os diferentes planos e fases que um pensamento percorre antes de se encarnar nas palavras.

Após ler este livro comecei a refletir sobre a capacidade do nosso pensamento, quando crianças, somos na grande maioria, impulsivos e agitados. Atropelamos ideias, gaguejamos muitas vezes em tentar expor em palavras tudo que precisamos diante da complexidade da informação, porém isto faz parte do processo de aprendizagem.

Existe uma adaptação da fábula budista “Os Dois Patos e a Tartaruga” que ensina muito sobre a questão de pensar antes de falar, principalmente nos momentos de raiva, compartilho este breve texto...

Há muito tempo, a tartaruga morava numa terra distante, onde fazia um calor forte. Durante anos, ela viveu feliz nadando preguiçosamente e tomando sol nas grandes folhas de lírio d'água que cobriam a superfície da lagoa. Às vezes, abocanhava uma libélula, ou tentava capturar um gordo e suculento besouro para comer.

A vida era agradável para a tartaruga... até que, num verão extremamente quente e seco, a chuva parou e o sol brilhou tão ferozmente que a água fresquinha e transparente da lagoa começou a secar. Pouco a pouco, a lagoa diminuía; a cada dia estava mais seca. Um dia, havia tão pouca água que a tartaruga decidiu procurar uma nova casa, antes que a lagoa sumisse de vez. Mas como ela faria isso?

De manhã cedo, quando o sol apareceu no céu, a tartaruga se preparou para buscar ajuda. De repente, ouviu dois patos gritando - qüéim, qüéim, qüéim -, enquanto voavam por cima dela. Sem pensar duas vezes, a tartaruga os chamou:

- Patos! Ei, vocês aí em cima! Por favor, me ajudem! Minha casa está secando. Vocês gentilmente me levariam para outra lagoa cheia de água?

- Mas como podemos fazer isso? - responderam os patos. - Nós estamos voando no céu aberto e você está aí no chão.

No momento em que tudo isso acontecia, a tartaruga tropeçou num galho bem comprido que estava no meio do caminho. E teve uma idéia:

- E se vocês carregassem esse galho entre os seus bicos? - sugeriu. - Assim eu poderia segurar nele com a boca e vocês me carregariam até outra lagoa.

- É uma boa solução - concordaram os patos, e aterrissaram perto da tartaruga.

- Mas você deve prometer não abrir a boca enquanto a transportamos.

E assim ficou combinado. Os patos colocaram o galho entre os dois bicos, como uma barra, na qual a tartaruga se segurou pela boca. Eles levantaram voo e carregaram a amiga pelo céu em direção a uma lagoa cheia de águas cristalinas e frescas que brilhava no horizonte.

No caminho, passaram por sobre um campo onde algumas crianças brincavam ruidosamente. Ao ouvirem asas dos patos batendo, as crianças olharam para cima e caíram na gargalhada com a cena estranha.

- Que ridículo! - zombou uma menina. - Dois patos carregando uma tartaruga num galho! Não é uma bobagem?

Hum... a tartaruga ficou muito zangada com aquilo. A cena poderia mesmo parecer muito esquisita, mas havia uma boa razão para tudo aquilo. Irritada, ela esbravejou com as crianças:

- Vocês é que são estúpidos! Não entendem naaaaaada!

Assim que abriu a boca para falar, a pobre tartaruga soltou o galho e caiu pelo céu ensolarado até estatelar-se na grama.

- Ui! - exclamou ela, esfregando a cabeça dolorida. - Se pelo menos eu não tivesse escutado essas crianças... Agora vou pensar duas vezes antes de responder com raiva a alguém.
 
Muitas vezes, nos expressamos com raiva, sem refletir sobre o que pode acontecer depois. Uma pessoa sábia pensa antes de falar e, se não pode dizer nada gentil, opta por ficar em silêncio.

Sinto falta dos grandes discursos, dos pensadores que carregaram nações em ideais e pensamentos com suas palavras acolhedoras. Parece-me que uma parcela da sociedade esta desaprendendo a pensar para falar, agindo por impulso, utilizando meios virais (ex.: redes sociais) para expor cada vez mais suas “ideias”. Hoje somos bombardeados por dados, cabe a cada um de nós fazer os filtros necessários para transformá-los em informação.

Admiro a história de Martin Luther King, por isso, selecionei seu discurso “EU TENHO UM SONHO” para demonstrar sua capacidade de argumentação e pensamento coerente. 
 
“(...) E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:

Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.”


Por fim, trago o contrapeso mencionado por Vygotsky, em que o pensamento e a palavra não são talhados no mesmo modelo: em certo sentido há mais diferenças do que semelhanças entre eles. A estrutura da linguagem não se limita a refletir como num espelho a estrutura do pensamento; é por isso que não se pode vestir o pensamento com palavras, como se de um ornamento se tratasse. O pensamento sofre muitas alterações ao transformar-se em fala. Não se limita a encontrar expressão na fala; encontra nela a sua realidade e a sua forma.


“Penso, logo existo”.
René Descartes (1596 – 1650)

 
Por Eduardo Silva

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